Entrevista

Entrevista com o Kicell na França

08/06/2009 2009-06-08 22:17:00 JaME Autor: Jerriel & Shadow-X Tradução: Guilherme & Rast

Entrevista com o Kicell na França

Depois de seu show em Nîmes, nos encontramos com o Kicell para falar de suas origens, experiências no exterior e ambições para o futuro.


© Eric Bossick
Um dia depois de seu show em Nîmes, o JaME teve a oportunidade de encontrar-se com os irmãos Tsujimura da banda Kicell para uma pequena entrevista.


Antes de tudo, olá e obrigado pela entrevista. Nós acompanhamos sua carreira há alguns anos e estamos muito animados com sua visita à França. Para começar, vocês poderiam se apresentar para nossos leitores?

Takefumi: É um prazer conhecê-los, nós somos a banda Kicell, formada por dois irmãos. Eu sou o irmão mais velho. Nossa música é bem calma e suava, focada nos vocais. Além disso, nossas duas vozes são parecidas e se completam muito bem harmonicamente. Mesmo que nossas letras sejam em japonês, nós tentamos criar melodias que possam impressionar a todos. Nós dois compomos, e essa sinergia entre nós é o que provavelmente nos destaca de outras bandas que tocam o mesmo estilo de música.

Tomoharu: Entretanto há uma diferença entre as minhas composições e as de Takefumi. Nossas vozes também têm algumas singularidades. Estas pequenas diferenças dão um contraponto interessante à nossa música.

Como vocês se interessaram pela música e que tipo de coisas vocês fizeram antes de criar o Kicell?

Takefumi: No meu caso, eu tocava em uma banda de heavy metal com alguns colegas de escola no colegial. Eu tocava guitarra, mas ainda não cantava. Em seguida eu criei o Kicell com Tomoharu em 1999.

No entanto heavy metal é algo completamente diferente do que vocês fazem agora. Como se deu este desenvolvimento?

Takefumi: Eu queria cantar, mas percebi que heavy metal definitivamente não era algo que se encaixava com a minha voz. Depois, um amigo me emprestou um gravador e eu comecei a fazer a sobreposição da minha voz enquanto tocava guitarra. Quando eu quis fazer shows, percebi que o jeito mais fácil era pedir ao meu irmão, que era capaz de fazer essa segunda voz que eu queria. Foi assim que o Kicell nasceu.

Sua música é geralmente cheia de melancolia ou apresenta um certo tipo de nostalgia. De onde vocês tiram sua inspiração para ela?

Takefumi: É verdade que a nostalgia é um fator importante para mim, e eu tento trabalhá-la tanto nas letras quanto na música. Dou muita importância à textura do som. Por exemplo, eu realmente gosto de gravar sons ambientes com gravadores. Parte da minha inspiração vem destas fitas. Outra parte vem dos meus sonhos ou das memórias de minha infância, destes sentimentos vagos que guardo e que me fazem sentir bem. Eu também carrego muita coisa do tipo de música que amo, das minhas viagens, dos diferentes lugares que visito. Finalmente, o que faz tudo isso funcionar é o fato de Tomoharu e eu partilharmos todas estas experiências. Nós passamos pelas mesmas paisagens e temos as mesmas memórias.

Como você escreve suas letras?

Takefumi: Eu apago as luzes para escrever. Mas eu não fico totalmente no escuro, eu tenho que ver o que estou fazendo (risos). Na maioria das vezes, nós compomos a melodia primeiro, depois eu copio a demo em meu walkman e penso sobre as letras enquanto estou no trem, no ônibus, ou andando na rua. Eu não costumo compor de manhã, porque há muito movimento e muito barulho ao meu redor.

Tomoharu, você também toca serrote musical, que não é um instrumento muito comum. O que te deu a idéia de incluir este som em suas composições? Você queria causar um sentimento em particular nos ouvintes?

Tomoharu: Apenas pensei que seria interessante tocar. Seu som não é muito claro, nós podemos ouvir um tipo de voz humana nele. Eu acho que ele se mistura bem com a música do Kicell. O que eu gosto neste instrumento é que não precisa de muita habilidade para tocá-lo, nem muita prática (risos). Em Kansai, a região onde crescemos, ainda há muitas pessoas que tocam o serrote musical.

Exatamente, vocês nasceram e cresceram em Kyoto, depois seguiram para Tóquio em 2000. O que fez vocês deixarem Kansai?

Takefumi: A maioria das gravadoras está em Tóquio. Nós tocamos por quase dois anos na região de Kansai, em Kyoto ou Osaka. Então, fomos convidados por uma major para vir à Tóquio. Era longe e teria custado muito dinheiro fazer tantas viagens, então achamos que era melhor nos mudar. Havia outras bandas com quem costumávamos tocar em Kyoto, então nós não sentimos que estávamos nos mudando para a capital, mas depois, foi ótimo nos mudar para lá. Foi também a oportunidade de viver sozinho.

Em 2005, vocês foram convidados por Takashi Murakami para tocar em Nova Iorque no evento Little Boy. Vocês já o conheciam antes disso? Como vocês reagiram à idéia de tocar no exterior?

Takefumi: Um ano antes, Takashi Murakami estava apresentando um programa de rádio em Tóquio, para o qual nós fomos convidados. Foi assim que pudemos conhecê-lo. Nós também tocamos durante uma de suas exibições, e foi como uma grande festa. Depois disso, nós tivemos a oportunidade de segui-lo em Nova Iorque. Esse show foi o nosso primeiro no exterior, e nós estávamos preocupados que nossas letras não seriam entendidas. Nós até pensamos em traduzi-las e adicioná-las ao programa da exposição, mesmo que não sejamos bons em inglês. Mas Takashi nos disse que seria perfeito daquela maneira, em japonês. Finalmente, a reação da platéia foi muito boa. Teria sido interessante cantar em inglês, mas só se tivéssemos um pouco mais de fé em nós mesmo. No entanto, nós percebemos que a língua que usamos tinha que continuar a ser a japonesa. E quanto à sua segunda pergunta, eu diria que o público estrangeiro responde de modo muito mais intenso, comparado com o japonês, que é bem mais contido. Era possível notar que eles tinham gostado da nossa música por causa das reações da platéia no meio das canções, como, por exemplo, em uma banda de jazz depois de um solo. Nós não sentimos que estávamos fazendo nada de especial naquele momento, mas as reações foram muito positivas. Ficamos muito contentes com isso.

Às vezes vocês tocam com um terceiro membro nos teclados, Emerson Kitamura. Quando ele entrou no Kicell?

Takefumi: Ele veio em 2003.

O que ele trouxe para sua música?

Takefumi: Nós fomos assistir a alguns eventos solo de Emerson chamados Emersolo. Ele estava tocando com um harmônio e um tipo de beatbox antigo. Eu senti que era um tipo de música muito íntimo e achei incrível. Então quis que tocássemos juntos. O Kicell às vezes toca como uma dupla, às vezes como um trio, mas sinto que há mais sensibilidade em nossa música como um trio. Quando gravamos em um estúdio, existem várias coisas que não podemos reproduzir ao vivo quando somos apenas nós dois, e as possibilidades são muito maiores quando Emerson está conosco. Ele conseguiu se adaptar a este laço entre dois irmãos. Existe uma grande diferença de idade entre Emerson e nós, o que nos permite considerar-lo como nosso tio. Ele é muito importante para nós.

Hoje vocês tocarão no festival Lex em Nîmes. Como vocês conseguiram esta oportunidade?

Takefumi: Quando estávamos tocando durante um show em Tóquio com Emerson, Franck Stofner estava na platéia. Na verdade, ele estava lá para observar outra banda que estava tocando, mas ele deve ter se impressionado com nossa música, porque ele nos mandou um e-mail mais tarde, nos convidando para tocar na bienal.

E o que acharam desta oferta na época?

Takefumi: Foi a primeira vez que ouvimos falar sobre o Lex. Nós ficamos muito felizes por esta nova oportunidade de tocar no exterior. Tomoharu já tinha visitado Paris antes. Ele realmente ama Paris (risos); Sim, estamos felizes em visitar a França.

O que acharam do show de ontem à noite e do público francês?

Takefumi: No começo eu estava muito nervoso. Já que éramos os últimos, pensei que todos estariam bêbados e fazendo muito barulho. Mas o público nos escutou de modo muito calmo e compartilhou suas reações conosco, mas de um jeito diferente do que em Nova Iorque. Todos me ouviram com atenção, até quando eu falava entre as canções. Eu acho que o povo francês é realmente muito educado. (risos)

Vocês planejam retornar em breve para a França ou Europa?

Takefumi: Sim, é um projeto. Ontem, Frank Stofer nos disse que deveríamos tocar novamente (risos). Estamos contando com isso. Nós gostaríamos de retornar assim que uma oportunidade surgir.

Vocês têm algum novo objetivo que gostariam de realizar no futuro?

Takefumi: Nós queremos continuar fazendo shows e música por um longo tempo, nós dois, até ficarmos velhos. Até agora, nós lançamos cinco álbuns, e acho que cada lançamento é melhor que o anterior. Se pudéssemos continuar fazendo isso seria ótimo. Eu também gostaria que uma de nossas canções se tornasse um hit, para que não tivéssemos que nos preocupar com dinheiro (risos). Mas eu acho que esse é um desejo que qualquer pessoa pode ter. (risos)


O JaME gostaria de agradecer à Franck Stofer, coordenador do selo Sonore e coordenador artístico do Lex, Antoine Chosson, agente de imprensa do Théâtre de Nîmes, nosso tradutor, Satoko Fujimoto e claro, o Kicell.
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