Phantom Siita 1ST WORLD TOUR “Moth to a Flame” no Electric Ballroom em Londres

Ado, a renomada e enigmática cantora utaite, conquistou notoriedade com Usseewa, uma crítica mordaz à sufocante conformidade da vida profissional no Japão, tornando-se rapidamente um ícone da não conformidade da Geração Z. Quando surpreendeu o público ao formar e produzir um grupo idol, era de se esperar que o fizesse à sua maneira singular e nada convencional.

Com uma estética inspirada no horror retrô, o Phantom Siita se define como meras mariposas entre as belas borboletas rivais da indústria idol. O nome do grupo surgiu da fusão dos nomes científicos da venenosa borboleta-monarca (Parantica sita) e da borboleta-cauda-de-andorinha (Epicopeia hainesii). Essa temática taxonômica se estende até os fãs, chamados de "haine" – um trocadilho proposital que, além de remeter ao nome científico, significa “ódio” em francês. No mundo invertido do Phantom Siita, esse sentimento é a mais pura expressão de amor.

Até agora, a trajetória do grupo tem sido meteórica. Enquanto a maioria dos grupos idols iniciantes percorre um árduo caminho de apresentações semanais em pequenas casas de show, o Phantom Siita simplesmente saltou essa etapa, sendo impulsionado pela fama de Ado diretamente para o Nippon Budokan. Depois, sem nunca ter realizado uma turnê solo no Japão, embarcaram em uma turnê mundial, com 14 datas espalhadas por três continentes em apenas um mês, culminando em um show no Electric Ballroom, em Londres.

O Electric Ballroom, uma das melhores casas de shows de porte médio da cidade, ainda tinha alguns espaços vazios no salão, sugerindo que a escolha do local pode ter sido um pouco ambiciosa. No entanto, a área em frente ao palco estava tomada por fãs fervorosos, que cantavam junto as músicas do Phantom Siita tocadas antes da apresentação.

Finalmente, a música de introdução começou, construindo a tensão como um vilão de filme slasher se aproximando de sua vítima, até se transformar em um animado city-pop dos anos 1980. Luzes vermelhas banharam o palco, evocando uma cena de carnificina, enquanto o Phantom Siita entrava sob gritos histéricos. A loja de produtos oficiais claramente teve boas vendas antes do show, pois inúmeros penlights eram agitados freneticamente na escuridão pelos haines.

As cinco integrantes se posicionaram em silêncio. As luzes destacaram os detalhes vermelho-sangue nas mangas e bainhas de seus seifuku (uniformes escolares japoneses), dando a impressão de que haviam acabado de se livrar de um corpo problemático nos bastidores.

O violino estridente que abre Kimi to xxxx shita dake arrancou gritos ainda mais entusiasmados da plateia, que reconheceu instantaneamente a música mais icônica do grupo.

Este é o verdadeiro espírito do Phantom Siita: um equilíbrio entre o sombrio e o fofo, o psicótico e o divertido, sempre com uma dose afiada de ironia. A adorável repetição de “chu-chu-chu” contrasta com o sangrento “chi, chi, chi”, acompanhada por uma coreografia simulando golpes de machado, como em um assassinato. Os vocais são um reflexo direto do estilo de Ado: intensos, melodramáticos e carregados de maneirismos únicos. Ao vivo, o grupo executou essas acrobacias vocais exigentes com uma facilidade impressionante.

Para manter a energia no auge, elas dispararam uma sequência de músicas animadas. Devilish Girl misturou batidas disco com instrumentos distorcidos, criando uma atmosfera inquietante. Hanabami oscilava entre o lúdico, o dramático e o frenético, envolvendo suas múltiplas personalidades em um refrão idol-pop irresistível. Fechando essa abertura eletrizante, Otome Shinju trouxe uma pegada jazzística, repleta de letras enigmáticas e sombrias, em um claro tributo a uma das maiores influências de Ado: Sheena Ringo.

A coreografia do grupo transitava entre o gracioso e o grotesco. Executada com precisão cirúrgica, intercalava movimentos desajeitados entre gestos elegantes, evocando a icônica Sadako de "Ringu" (O Chamado). O rigoroso processo de audições não apenas revelou cantoras e dançarinas talentosas, mas também verdadeiras atrizes. Seus sorrisos angelicais de idol se desfaziam num piscar de olhos, transformando-se em expressões ferozes, rostos inexpressivos de mortos-vivos ou olhares psicóticos, conforme o clima da apresentação exigia.

Um dos desafios da ascensão meteórica do Phantom Siita é sua discografia ainda limitada, composta apenas pelas sete faixas do mini-álbum de estreia Shoujo no hi no omoide. Embora essa duração seja ideal para apresentações conjuntas (taiban), um show solo exige um repertório mais extenso. A solução do grupo foi abraçar a nostalgia do horror retrô: o segmento central da apresentação foi dedicado a covers, majoritariamente de músicas dos anos 1980 e do final da era Showa.

A primeira escolha foi Suki Suki Daisuki, de Jun Togawa, um encaixe perfeito na estética do grupo. Seu título fofinho esconde uma letra perturbadora sobre obsessão e violência, elevando a tensão do show. Em seguida, cada integrante assumiu o palco para um cover solo.

Mona iniciou com Ai Sangoshu, de Seiko Matsuda, uma performance cativante que evocou a era dourada das idols. Rinka seguiu com FANTASY, de Meiko Nakahara, mergulhando no puro city-pop.

Miu quebrou a linha nostálgica ao trazer um toque contemporâneo com KICK BACK, de Kenshi Yonezu, tema de "Chainsaw Man", arrancando gargalhadas insanas do público com sua interpretação explosiva. Hisui, por sua vez, suavizou o clima com uma versão delicada de One Last Kiss, de Hikaru Utada. Por fim, Moka voltou ao passado com Flyday Chinatown, sucesso de Yasuha lançado em 1981.

Esse segmento deixou claro que Ado não montou um grupo de simples imitadoras – cada integrante possui uma identidade vocal única. No entanto, fica a dúvida se essas apresentações solo continuarão nos shows conforme a discografia do Phantom Siita crescer. Embora divertida, a nostalgia pode não ter o mesmo impacto fora do Japão, ainda que os fiéis haines tenham cantado junto sem hesitação.

O show caminhava para seu clímax com Otomodachi, o single de estreia do grupo. Como sempre, um título aparentemente inocente esconde um tema sombrio: traição e mentiras entre amigos. No final, todas as integrantes caíram dramaticamente no chão, deixando apenas Miu de pé, antes de se recomporem e agradecerem ao público.

Os pedidos de encore começaram imediatamente, e o chão de madeira do Electric Ballroom tremia sob os pés dos fãs. Eles foram recompensados com um cover de Tot Musica, de Ado, tema de "One Piece Film: Red" – a mesma música que usaram nas audições. A interpretação foi intensa, quase possessiva, como se incorporassem o próprio espírito da canção.

Como um último presente para o público, elas entregaram Moonlight Densetsu, o icônico tema de "Sailor Moon", que se encaixou perfeitamente na atmosfera da noite. A escolha foi ainda mais apropriada, considerando que a peça "Pretty Guardian Sailor Moon: The Super Live" estava em cartaz ali perto. Na verdade, parecia que alguns espectadores haviam transformado o dia em um evento duplo, correndo para o Electric Ballroom logo após assistirem a uma matinê.

O MC final se transformou em um momento épico, com cada integrante dedicando emocionantes 15 minutos para compartilhar seus sentimentos sobre o encerramento da turnê. Mona iniciou a sessão falando em inglês sobre o quanto amou estar no palco, arrancando risos ao brincar com o público: "Gosto mais disso do que de dormir ou comer!". As demais integrantes falaram principalmente em japonês, mas, ainda assim, conseguiram expressar a profundidade daquele momento.

Com Miu, suas emoções estavam à flor da pele, como sempre. Sua promessa de que o Phantom Siita retornaria ainda mais forte desencadeou uma reação em cadeia entre as demais integrantes. Rinka tentou se conter, dizendo a si mesma "Não chore!", mas não conseguiu evitar as lágrimas ao expressar seu amor pelos fãs e pelas companheiras de grupo.

Hisui, apontando para Rinka, brincou: "Você disse ‘Não chore!’", mas logo também sucumbiu à emoção. Pequenos suspiros pontuavam sua fala, como se estivesse ao mesmo tempo sem palavras e sem acreditar no que estava acontecendo. O público rapidamente a incentivou, entoando um coro de "Hisui! Hisui!". Moka, por outro lado, conseguiu segurar as lágrimas, mas confessou que, no início, sentiu-se intimidada com a ideia de uma turnê mundial. No entanto, ficou encantada por ter tido a chance de se apresentar para fãs ao redor do mundo.

Por mais que não quisessem que essa grande aventura chegasse ao fim, esse momento finalmente havia chegado. Elas se recompuseram e encerraram o show com Zoku Zoku, um banger de pop latino. Mesmo depois de se curvarem em despedida, prolongaram o instante final um pouco mais, acenando e absorvendo os aplausos antes de deixarem o palco.