Entrevista com a CHOKE
O “metal montanha russa” planeja devastar o mundo.
Formada na cena underground de Tóquio em 2017 pelo vocalista REON, o guitarrista KVYA NONO e o baixista B5, a banda visual de rap metal CHOKE tem experimentado diferentes gêneros para criar seu próprio som, planejando desconectar-se dos padrões estabelecidos. Suas músicas contam com instrumentos com afinação drop D; riffs distorcidos com licks rápidos de guitarra; baixo pesado com slap; breakdowns intensos; e vocais dinâmicos com rap claro, guturais baixos e gritos agudos.
A CHOKE tem tirado vantagem dos
canais de distribuição digital, expandindo sua música pelo mundo e encorajando
seus ouvintes a dizer o que pensam e a devastar o mundo.
Para aqueles leitores que ainda não tiveram a
chance de ouvir a CHOKE, como vocês descrevem a sua música?
REON: Muitas das nossas músicas foram compostas em
um estilo universitário, adicionando fragmentos diferentes de vários gêneros
musicais em uma única música. Foi dito que essa progressão inesperada parece um
passeio de montanha russa. Assim, colocando em poucas palavras, eu acho que
“metal montanha russa” é a expressão perfeita para descrever o gênero da nossa
banda.
KVYA NONO: Se precisarmos nos apresentar, eu diria que “a
nossa música é uma combinação de nu-metal e djent”. Mas, na verdade, a música
que fazemos ultimamente tem elementos de hardcore e trap. Neste ponto, eu não
sei como é a percepção disso pelos ouvintes e estou bem ciente dessa situação.
Eu adicionaria que “nossas maquiagens são legais”. (risos)
B5: Eu acho que o termo “crossover” encaixa bem. Apesar
de a base da nossa música ser o metal, nós integramos diversos elementos. Para
ser honesto, eu ainda não sei como descrever isso.
A letra do seu single No problem at all parece advertir o ouvinte dos perigos da mentalidade de
rebanho, da desinformação e de agradar as pessoas. Vocês gostariam de falar
mais sobre isso? O que os inspirou a abordar esses tópicos?
REON: A temática dos perigos da mentalidade de
rebanho está constantemente na minha mente. Eu sinto que a nossa atual situação
de lidar com o efeito eco que ocorre nas redes sociais e em outros meios de
comunicação não é diferente das bases de cultos religiosos e de partidos
políticos radicais. A maioria das pessoas que sofre lavagem cerebral acredita
que não está sendo manipulada e que o seu julgamento não foi afetado, mas, na
verdade, sua cabeça foi gradativamente invadida.
A frase “mawata de shimetsukeru Like a
Snake~ (Estar amarrado com um fio de seda, como uma cobra)” no início da
música expressa exatamente isso. Para não correr esse risco, é necessário ter
valores fortes. Eu os encontrei na música. Mas e vocês, pessoal? Eu pergunto. Eu
acho que é possível superar qualquer adversidade atual e seguir para a próxima
fase se você tiver valores assim. Portanto, eu escolhi esse título porque no
final “No problem at all” (Sem problemas).
Em The Human Anthem vocês expandiram esse
pensamento ligeiramente e chamaram as pessoas para pensar fora da caixa e ousar
ser quem elas deveriam ser antes da sociedade afetá-las. É uma mensagem
interessante para uma banda do Japão, já que a sociedade japonesa é
frequentemente vista pelas pessoas do ocidente como extremamente rigorosa e
sistemática. Vocês escreveram essa música como uma reação direta a esse
fenômeno?
REON: Se No problem at all aponta
para pessoas sem determinação, The Human Anthem dirige-se
àqueles que vivem reprimindo seus desejos. É assim que essas músicas podem ser
classificadas. Essas regras não existem apenas no Japão, mas em todos os países
e áreas. Em alguns casos, desejos que não se alinham àquelas regras surgem nas
pessoas; independentemente de ser eticamente certo ou errado. Claro, você será
punido que quebrar as leis e esse comportamento nunca será aprovado.
Contudo, comparado “àqueles humanos que tem
sofrido lavagem cerebral” (que foi o tema de No problem at all), esses
indivíduos exalam uma “energia ansiosa” que faz com que eles tenham uma
existência mais humana e brilhante. Nós enaltecemos isso em The Human
Anthem. Se eu puder apontar essa confiança na direção certa, eu poderei
levar meu destino por um caminho melhor. “Vamos viver sem ter medo de
experimentar” é uma mensagem final positiva.
É difícil classificar a sua música em um único
gênero já que vocês incorporam elementos de vários estilos. Essa é uma escolha
consciente ou é apenas resultado da experiência musical individual de vocês
quando se juntam?
REON: É verdade, até certo ponto, que misturamos
intencionalmente vários elementos musicais. Com isso em mente, podemos chamar
isso de experimento musical. Nesse caso, nós podemos dizer que nossas músicas
completas são um “relato de estudos experimentais”. Além disso, eu quero ser um
fã de música em vez de ser apenas um músico. Sem dúvidas, as bandas que mais me
impactaram foram aquelas com um toque original e novo. Então, eu também quero
ser assim. É mais importante pra gente ser uma banda que sempre surpreende o
público.
KVYA NONO: Eu gosto de procurar novos lançamentos quando
eu ouço música. Então, eu sou o tipo de pessoa que checa profundamente os
rankings da Billboard e do Spotify. As músicas novas nem sempre são boas, mas
eu quero que a música da CHOKE acompanhe as últimas tendências da
cena. Apesar de eu verificar muitas fontes afim de tornar as nossas composições
únicas, em relação ao som, eu priorizo as técnicas de gravação da era analógica
e depois procuro as inovações recentes. A CHOKE incorpora
frequentemente o estilo dos bons tempos antigos. Eu espero que as pessoas
possam prestar atenção a esses detalhes.
B5: É intencional. Nós sabemos que nossas
experiências pessoais são muito diferentes e, se as combinarmos, é inevitável
ter uma mistura diversa de estilos. Consequentemente, a curiosidade fez com que
experimentássemos, já que pensamos que seria legal. Uma vez que todos os
membros têm a intensão de fazer o tipo de música que gostam sem restrições, nós
sabíamos que teríamos músicas caóticas. E mesmo agora, nós ainda gostamos de
fazer isso.
Como vocês acham que o som da CHOKE vai
evoluir no futuro? Tem algum som ou tema que vocês estão interessados em
explorar?
REON: Nesse momento da nossa carreira, eu acredito
que finalmente tenho uma ideia clara de como trabalhar e fazer música como CHOKE.
Portanto, há uma grande chance que nasça uma variedade muito maior de músicas livres.
Pessoalmente, eu gostaria de aprimorar as minhas habilidades em fazer batidas
de hip-hop e rap. Recentemente, eu tenho pensado em estudar o hip-hop de outros
países como Rússia e Coreia do Sul.
KVYA NONO: Eu acho que o nu-metal estará mais presente no
futuro. Além disso, eu gostaria de continuar adicionando elementos do trapcore.
O toque análogo e o sentimento do som ao vivo ainda virão primeiro, deixando de
lado as opções digitais. Não preciso dizer que cuidar da acústica é importante
também. Contudo, se eu colocar muito peso nisso, o som original da CHOKE pode
ser deixado de lado. Eu vou fazer música sem esquecer a essência da banda.
B5: Vai depender da inspiração naquele momento
específico. Eu gosto do fato que o futuro é imprevisível. Mas uma coisa é
certeza: nós não vamos parar de fazer o que queremos fazer e não vamos deixar a
opinião dos outros entrar no nosso caminho. Pensar sobre música é sempre
empolgante.
Recentemente, vocês lançaram No problem at all e The Human Anthem nos serviços de streaming. Por
que isso? Vocês esperam fazer turnês no exterior quando a pandemia do coronavírus
acabar?
REON: Nós estávamos interessados em ter lançamentos
digitais e sentimos que foi o momento perfeito para tentar isso. A vantagem do
lançamento digital é que você pode ouvi-lo imediatamente, independente de onde
você more. Mas isso não significa que perdemos nosso amor e apreço pelos CDs e
pelas gravações físicas. Por isso, nós continuaremos a escolher a melhor forma
de distribuir a nossa música. Fazer turnês no exterior sempre foi um dos nossos
objetivos e estamos trabalhando cada dia para que isso aconteça.
KVYA NONO: Neste ano, eu planejava lançar um MV para cada
música. Além disso, eu disse aos membros
que era importante trazer uma “sensação de velocidade”. Então, quando o coronavírus
emergiu e todos no mundo foram forçados a ficar em casa, eu senti que
poderíamos nos aproximar das pessoas de fora do Japão.
Com os termos “sensação de velocidade” e “alcançar
o exterior” em mente, eu cheguei à conclusão que o streaming seria uma escolha
perfeita para as atuais atividades da CHOKE. Nós sempre desejamos uma
turnê no exterior. Durante essa pandemia do coronavírus, este desejo se tornou cada
vez mais forte. Definitivamente, nós queremos fazer isso. Eu quero muito ir e
me apresentar no exterior imediatamente.
B5: Eu gostaria de fazer uma turnê no exterior se
as pessoas quiserem nos ver. Os serviços de streaming permitem que você ouça vários
artistas independentemente do país ou região em que você vive. A distribuição
física não foi possível devido à crise do coronavírus, então nós começamos a
fazer isso online. É uma ferramenta muito conveniente, não é?
Finalmente, vocês têm alguma mensagem para os
seus fãs estrangeiros?
REON: Seria ótimo fazer um show no seu país. Obrigado.
KVYA NONO: Muitas mensagens de fãs internacionais, que eu
ainda não encontrei pessoalmente, me ajudaram quando eu tive que encarar momentos
difíceis no Japão. Eu sempre serei grato por isso. Vou dar o meu melhor para
encontrar vocês. Eu espero que possa contar com a sua ajuda.
B5: Obrigado pelo seu interesse na CHOKE e
por tirar um tempo para nos conhecer. Eu espero que um dia nós possamos nos
apresentar na sua frente.
O JaME gostaria de agradecer à CHOKE e
à Royal Stage pela oportunidade dessa entrevista.
A CHOKE lançou seu segundo single The Human Anthem em 11 de
setembro de 2020 em diversas plataformas de
streaming, apenas três meses após o lançamento de No problem at all.